Epidemia de cegueira e 2º turno das eleições. Por Frei Gilvander Moreira[1]
No Brasil, estamos afundados em um
contexto de mais de 33 milhões de pessoas, irmãos e irmãs nossos, passando
fome, de desmatamento desenfreado da Amazônia e dos outros biomas, de avalanche
de mentiras (fake news) sendo disseminadas em dose cavalar e parte do povo
cegado sendo induzido a entrar no desfiladeiro do matadouro. Neste contexto dramático,
após o 1º turno das eleições de 2022, que elegeu para o Congresso Nacional um
número maior de pessoas comprometidas com a reprodução do sistema capitalista e
com o aumento da desigualdade social – injustiça social, econômica e política -,
se torna mais fácil entendermos porque os profetas e as profetisas da Bíblia
repudiam com veemência a idolatria, o invocar em vão o nome de Deus, condenam
os falsos pastores, os profetas mentirosos atrelados aos palácios e os sacerdotes
vassalos de reis opressores e os alertas dos verdadeiros profetas de que o povo
está sofrendo por ignorância e por falta de conhecimento. Certo dia, ao ser perguntado
“Por que não se tornava um cristão?”,
Mahatma Gandhi respondeu: “Admiro muito
Jesus Cristo, mas muitos cristãos são na prática negação do que Jesus ensinou e
testemunhou”.
No livro Ensaio sobre a cegueira, de 1995, José Saramago, em trezentas
páginas, convida-nos a experimentar durante a leitura, sob intenso sofrimento e
angústia, que não somos bons e que dói muito reconhecer que não somos bons e
que estamos sobrevivendo como cegos. “Estou
cego, estou cego, repetia com desespero enquanto o ajudavam a sair do carro, e
as lágrimas, rompendo, tornaram mais brilhantes os olhos que ele dizia estarem
mortos”. Um motorista parado no semáforo, subitamente descobre que
está cego. Assim Saramago inicia o romance da história de uma epidemia de
cegueira que atingiu todas as pessoas em uma cidade. A convivência social se
tornou um caos, com pessoas isoladas e abandonadas à própria sorte. Na cidade
em caos, destruição humana campeia. Todos cegos – cegados, melhor dizendo – se
batem pela sobrevivência imediata. No desespero, os traços de humanidade são
aniquilados.
No Brasil, as ideias da classe
dominante, que formam a ideologia dominante, estão cegando muita gente e
encabrestando-as. Com Paulo Freire constatamos que muita gente oprimida e
explorada está sendo hospedeira de opressores e exploradores. Triste ver pobre
pensando com cabeça de opressor! As primeiras comunidades cristãs do Evangelho
de João já alertavam que a mentira oprime e mata, e a verdade liberta. O milagre
que Jesus mais gostava de realizar era curar cegueira, ou seja, restituir a
capacidade de ver com visão crítica e criativa.
A história da humanidade mostra que
muitas vezes o povo cegado, em atitude suicida, elegeu seus próprios algozes. Isto
aconteceu quando o povo manipulado por quem usava em vão o nome de Deus,
arvorando-se como defensores de “Deus, Pátria, Família e Propriedade”, elegeu
Benito Mussolini, Adolfo Hitler e o general Franco, que se tornaram
nazifascistas sanguinários. A história demonstra também que um gato fictício
pode levar os ratos a caírem na ratoeira. Discursos histéricos de hipócritas
pastoras, falsos pastores, padres medíocres descompromissados ou líderes
religiosos adoradores de dinheiro, estão seduzindo pessoas ingênuas que aceitam
falsas interpretações bíblicas e assimilam posturas moralistas e
fundamentalistas que, na prática, sustentam políticas de discriminação, de violência
e morte.
No 2º turno das eleições agora (2022),
justo e ético é votar em quem tirou o Brasil do mapa da fome – Lula - e tem
compromisso em novamente implementar políticas públicas que retirem da fome
mais de 33 milhões de pessoas. Façam suas análises, comparem o perfil dos
candidatos, analisem suas histórias e trajetória de vida. Os candidatos que se
apresentam nesse 2º turno tem perfis bem diferenciados. Diante dos desafios
urgentes que o Brasil apresenta, responda: É justo ter 33 milhões de pessoas passando
fome e alardear que somos um dos maiores produtores de grãos no mundo? É ético
e justo manter um orçamento secreto, se um dos pilares da administração pública
é a transparência? Que Políticas Públicas estão em vigor para proteger nossas
matas, as nascentes, as veredas, o pantanal, a diversidade dos biomas e a riqueza
da Amazônia? O sangue de tantos mártires, irmãos e irmãs indígenas,
ambientalistas, defensores da mãe natureza não pode ter sido em vão.
Não é ético e nem justo votar em quem
impôs fome para mais de 33 milhões de pessoas, o inominável que só queria dar
uma migalha de R$200,00 como auxílio emergencial durante a pandemia da covid-19
e que foi forçado a dar R$600,00 por parlamentares do Congresso Nacional com
alguma sensibilidade social. Não dá para acreditar em quem impôs preço
caríssimo da gasolina, do gás e do diesel durante 3,5 anos e só agora em três
meses de campanha eleitoral baixou um pouco o preço dos combustíveis e ofereceu
R$600,00 com data marcada para terminar em 31 de dezembro de 2022. Isto foi
isca para pescar votos das pessoas que estão sendo violentadas na sua dignidade
e que muitas vezes ficam gratas por alguma ajuda paliativa que recebem.
Em contexto de brutal devastação
ambiental causada pelo agronegócio com monoculturas e uso indiscriminado de
agrotóxico que tem levado à desertificação de muitos territórios, impondo mudanças
climáticas, com eventos extremos cada vez mais assombrosos e devastadores, colocando
em risco seríssimo de dizimação da humanidade, porque sem condições ambientais
sustentáveis a vida humana não será mais possível, não é justo e nem ético
reeleger um presidente que em quatro anos de mandato incentivou o desmatamento
da Amazônia e de outros biomas, que desmantelou os setores de fiscalização
ambiental do Governo Federal porque é indiferente às questões ambientais. Qual
dos candidatos defende e valoriza a mata em pé, defende a biodiversidade, a
preservação da demarcação dos territórios indígenas e propõe a implementação de
ações que garantem o uso sustentável dos bens naturais? O inominável mente de
forma contumaz, conforme atestou, por exemplo, o Observatório do Clima logo após
o debate de 16/10/22 entre Lula e o inominável: “Jair Bolsonaro MENTE sobre desmatamento no governo Lula. O PT pegou o
desmatamento em 25 mil km2 e reduziu a 4.500 km2.
Bolsonaro pegou com 7.500 km2 e levou a 13.000 km2.”
Eleger Lula é votar a favor da preservação da Amazônia e dos biomas.
Da perspectiva cristã, é imoral reeleger
um presidente que diz que “só sabe matar”, que tem como ídolo o torturador
Ustra, que assinou mais de 30 decretos flexibilizando o acesso a armas e
munições no país, que diz que “quer todo mundo armado”. Isso é absolutamente
contraditório com o Evangelho de Jesus Cristo que apregoa “amai-vos uns aos
outros” e jamais, ‘armai-vos”, que pede de todos/as nós relações humanas e
sociais de justiça, de ética, de amor, de partilha e de solidariedade. As
atitudes de ódio e violentas do inominável têm estimulado pessoas a se tornarem
violentas chegando a ações criminosas como matar petista que celebrava seu
aniversário, ameaçar matar Lula ou promover arruaça em Aparecida do Norte
durante celebrações do dia de Nossa Senhora Aparecida, profanando um santuário,
desrespeitando e violentando a fé do povo católico brasileiro.
Avalie quem são seus inspiradores, quem
lhes serve de referência moral? Ter como referência quem alardeia a ditadura, o
falso moralismo e quem propaga a pedofilia é desumano. A economia do país
precisa de novos rumos, alicerçados em princípios de justiça, com taxação das
grandes fortunas, com variação do percentual de dedução do imposto de renda,
onde quem ganhe mais, pague mais e vice versa. O salário mínimo não teve
reajustes anuais acima da inflação nos últimos quatro anos. A vida dos mais
humildes, dos preferidos e escolhidos do Mestre Jesus está um sofrimento
diário. Quem visita as casas das periferias, das favelas, dos aglomerados, das ocupações,
sabe a dor e a agonia que tem sido conciliar o aluguel, as contas do mês, as
contas da farmácia. A fome não é mero discurso, voltou a ser uma realidade
cruel, insana e desumana na vida dos/as brasileiros/as. Engana-se quem acha que
apenas os discursos de “bons costumes” e de valorização da família estejam
acima de tudo. Melhor candidato é aquele que se preocupa com a educação, que
fala em construir novas universidades, em ampliar o número de vagas em creches,
pré-escolas, educação infantil, dar condições dignas de trabalho aos
professores, equipar as universidades.
O inominável se apresenta como xerife de
“bons costumes” e de moralidade que ele não demonstra. Ele coloca questões de
moralidade acima das questões sociais, dos clamores do povo por terra, teto,
salário justo, emprego com salário justo, educação e saúde públicas de
qualidade. Nada disso está no radar da sua atuação política. Quando esteve na
presidência, Lula anualmente reajustou o salário-mínimo acima da inflação, o
que ajudou 90% dos aposentados do Brasil que recebem apenas o salário mínimo
como aposentadoria. Já, o antipresidente, em quatro anos de mandato, vem
reduzindo o valor real do salário mínimo. Isto impõe fome e miséria ao povo
pobre. É política de morte não aumentar o valor real do salário mínimo e atrelar
os preços dos combustíveis ao dólar.
As pesquisas eleitorais demonstram que a
maioria dos grandes empresários vota e defende o inominável, chegando a
atitudes criminosas de ameaçar trabalhadores com demissão caso votem no
Lula. Isto é coerente com seus
interesses egoístas, pois o inominável, se for reeleito, continuará colocando o
Estado para aumentar a riqueza dos ricaços e aumentar a pobreza. Mas uma pessoa
da classe trabalhadora votar no inominável é o cúmulo da cegueira, é votar no
próprio algoz, é colocar “raposa para tomar conta do galinheiro”.
Hipocrisia e cara de pau também é
continuar a alardear a fake news de que Lula, se for eleito, fechará igrejas.
Como? Se Lula demonstra ao longo da sua vida que tem identidade religiosa
clara, é católico que respeita a liberdade religiosa no Brasil. Tanto é que foi
Lula que criou leis que regulamentam a liberdade religiosa garantida pela
Constituição, tais como o Dia da Marcha Nacional com Jesus e o Dia do
Evangélico. A realidade é que quem está acabando com as igrejas são os falsos
pastores, falsos padres e outros líderes religiosos que adoram frequentar os
palácios e receber verbas públicas.
Não será ético reeleger o inominável
porque está por demais demonstrado que ele não levou a sério a pandemia da
covid-19 e poderia ter evitado a morte de mais de 400 mil pessoas por covid-19.
No Brasil morreu quatro vezes mais gente de pandemia do que a média mundial,
porque o inominável foi negacionista, atrasou vários meses a compra de vacina,
disse que era “gripezinha”, desdenhou e zombou de quem estava morrendo
asfixiado pela falta de oxigênio, demitiu o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta,
que demonstrava ter compromisso com o que os cientistas estavam propondo para
enfrentar a pandemia. O inominável impôs no Ministério da Saúde um general que
não entendia nem de logística e era totalmente ignorante com relação à missão
de um ministro da saúde.
Antes de votar, reflita! Sua vida e da sua família melhoraram ou pioraram nos últimos quatro anos? Como estão os preços? Os aumentos têm sido contínuos? E os preços dos alimentos? Qual a diferença entre trabalhar com carteira assinada ou ter o mercado como regulador? Lula construiu 18 novas universidades e 422 Institutos Federais de educação, realizou muitas políticas sociais... Enfim, Lula não é perfeito, mas é mil vezes melhor para o povo brasileiro e para o meio ambiente, sob todos os aspectos. A escolha é entre democracia e fascismo, entre vida com dignidade e barbárie. Neste 2º turno, votar em Lula, com apoio de uma ampla Frente Democrática é optar pela vida, amor, paz e esperança. Que o Deus da vida nos inspire e nos abençoe na nossa escolha!
18/10/2022
Obs.: As
videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado acima.
1 – Uso
abusivo da religião nas eleições - Por frei Gilvander - 1º/10/2022
2 -
Modelo de sociedade escravocrata violenta sendo imposto pelo bolsonarismo? Por
Pastor Ed René Kivitz
3 - Dez
mudanças que ocorrerão nas igrejas caso Bolsonaro perca a reeleição para
Presidente do Brasil
4 - Por
que Evangélicos, Católicos e pessoas de outras religiões devem votar em Lula no
2º turno?
5 - Ato
Interreligioso em BH/MG em defesa da democracia, da vida, pela paz e contra
golpistas/opressores
6 - Carta
da Democracia e as Eleições no Brasil, com o advogado Antonio Carlos Kakay
7 - A
Democracia funciona quando existe respeito aos direitos humanos. Por frei
Gilvander - 12/4/2021
8 - Vote
pela democracia, pela justiça, paz e pela vida! Por frei Gilvander - 1ª Parte -
11/11/2020
9 - Luta
contra mineração no 27º Grito dos Excluídos, em Itabira, MG, no Palavra Ética
na TVC-BH
10 - 27º
Grito dos Excluídos, de Itabira, MG, no Palavra Ética da TVC-BH: Fora,
Bolsonaro! 07/09/2021
11 -
Fernando Francisco de Gois, outro Cristo/Servo de Deus no meio dos excluídos,
em São Félix/MT agora
12 - 5ª
Romaria das Águas e da Terra da bacia d rio Doce, Conceição do Mato Dentro/MG.
Com Frei Gilvander
13 -
Milhares no 28º Grito dos Excluídos em BH/MG: "Fora, Bolsonaro! Lula, Lá!
Resgate de direitos, já!"
14 - Olhar crítico sobre o 1º
turno das eleições - Por frei Gilvander
[1] Padre da
Ordem dos Carmelitas; doutor em Educação pela Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG); licenciado e bacharel em
Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); bacharel em Teologia pelo
Instituto Teológico São Paulo (ITESP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício
Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da Comissão Pastoral da
Terra/MG (CPT), assessor do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) e das
Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no Serviço de Animação Bíblica
(SAB), em Belo Horizonte, MG; colunista de vários sites; e-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook:
Gilvander Moreira III
Nenhum comentário:
Postar um comentário